Super herói de rodas
- Carlane Borges
- 16 de set. de 2016
- 4 min de leitura

Foto: André Motta/brasil2016.gov.br
Ele tinha tudo para ser um desconhecido ou ser conhecido pelas derrotas e sua miséria, não pelos ganhos. Fernando Aranha provou a si e aos que o conhece que é possível ir além da perspectiva que o mundo oferece. Veja bem, isso não significa que será fácil, mas que é possível. Também não significa que o mundo e as pessoas sempre lhe estenderam a mão, porém no meio do caminho, além das pedras, terão corações bons e aqueles dispostos a facilitar ou “correr junto” contigo.
Fernando nasceu em 10 de abril de 78, em São Paulo. Sua família era de uma realidade muito pobre. Sua primeira prova foi aos três anos de idade. Uma poliomielite deixou como consequência a perda dos movimentos da cintura para baixo, esse poderia ter sido o motivo de suas maiores derrotas, mas não é bem assim. Aos quatro, foi provado mais uma vez. A realidade pobre e falta de recurso da família fez com que os pais perdessem a guarda dele e dos irmãos. Foram encaminhados para o que se chamava na época de Febem (atual Fundação Casa). Passou por um reformatório em Limeira, mas sua infância se fez no internato católico, Pequeno Cotolengo, localizado em Cotia/SP.
O paragrafo acima poderia perfeitamente se resumir a história de Aranha, no entanto era ali que começava. Seu primeiro contato com o esporte foi através dos livros. Como toda criança (a deficiência limitava, mas não o impedia) era agitado e estava sempre em movimento. Na escola, mesmo não sendo obrigado a praticar educação física, deficientes poderiam ser dispensados, ele não o fez.
A primeira modalidade esportiva praticada por ele oficialmente foi o basquete adaptado para cadeirantes. Foi u amigo que o informou sobre o esporte praticado por algumas pessoas no parque do Ibirapuera. Aranha tinha algo que o impedia de fazer parte do grupo: sua idade. Aos quinze anos, menor, ele não era liberado pelos padres a sair do internato. A alternativa que encontrou foi pular o muro. Sua vida seguiu nesse ritmo por mais ou menos um ano e meio, ate ser descoberto. Tudo parecia ter acabado ali. Para sua surpresa e o fato dele ter uma competição a alguns dias do acontecido, os responsáveis pelo grupo pediu autorização aos padres, que liberaram sua saída para os treinos, mesmo sendo menor de idade.
Aranha praticou basquete adaptado por 10 anos, mas não era possível viver apenas de esporte. Era preciso trabalhar, além disso, pensava em ingressar num curso superior. Nessa levada, o esporte por equipe era inviável, foi então que ele mudou de categoria. Segundo ele, em entrevista para a Folha de S. Paulo, em 1999 usou uma cadeira de rodas para corridas pela primeira vez e “foi amor à primeira vista”. Com uma cadeira de rodas emprestada se aventurou na São Silvestre de 99 e foi campeão. Em 2004, Aranha se despediu do basquete e passou para a modalidade do atletismo. Com a rotina, treinos em equipe eram impossíveis.
No atletismo competia sempre de corridas de rua. O salário que recebia investia parte em equipamentos. Assim ele conheceu o "handbike" e se tornou uma espécie de percursor do aparelho no Brasil. Foi a handbike, uma espécie de bicicleta de mão, que naturalmente o introduziu no paratriatlo. A modalidade pouco popular no país despertou o interesse de Fernando e na época nem era oficial em paralimíadas. O paratriatlo é a mistura de três modalidades: natação, atletismo e ciclismo. Essa diversidade despertou a curiosidade do atleta.
Aranha poderia ter parado no paratriatlo, mas a vida ainda reservava surpresa (esperamos que continue assim). Esqui cross country, este é mais um esporte onde Fernando se aventura. Sendo entrevista concedida ao Portal Esporte Essencial, o Esqui Cross Country surgiu na sua vida por uma série de coincidências. Aranha treina constantemente no campus da USP em São Paulo, local onde também ocorrem treinos de muitas modalidades paraolímpicas no gelo.
Quando entrou em contato com Leandro Ribela, que era coordenador voluntário da modalidade na CBDN (Confederação Brasileira de Desportos na Neve), ele só queria ideias novas para um treinamento especifico envolvendo o paratriatlo. No meio disso tudo, Fernando acabou sendo especulado, e mais tarde introduzido, para a modalidade no gelo. O fator importante na escolha é que ambos os esportes envolve muita resistência. Fernando disputou as paralimpíadas de inverno de Sochi-2014, RUSSIA. Competiu em três provas: 15km (Cross Country) ; Sprint 1km (Cross Country) e 10km (Cross Country) . Foi 15º Cross Country de 15 km e 21º no de 10km.
A experiência em uma paralimpíada de inverno foi o divisor de águas para Aranha se aperfeiçoar e conseguir dar seu melhor nas paralimpíadas do Rio-2016. Fernando reconhece que os adversários estrangeiros estão em um nível superior a ele no esporte, mas nunca deixou de acreditar numa medalha. Além disso, junto com a atleta Ana Raquel Lins, são os melhores representantes do Brasil na modalidade.
A medalha de Aranha não veio. Sua colocação geral foi 7º com um tempo de 1:06:51 em um total de 10 atletas. Fernando também se tornou o primeiro atleta brasileiro a disputar tanto os Jogos Paralímpicos de Inverno quanto os de Verão.
*Todas as informações contidas nesse texto foram retiradas de pesquisas na internet, desde notícias, entrevistas a pequenas biografias feitas nos sites oficias das competições.
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